A sucessão na Bial será, naturalmente, não familiar“, é uma das frases que marca um dos pontos da entrevista de António Portela, no podcast do Expresso “O CEO é o Limite”, com as incisivas perguntas de Cátia Mateus.

Para aqueles que não têm tempo ou oportunidade de escutar a entrevista, atrevo-me a apresentar uma síntese telegráfica do que, para mim, mais se releva.

Antes de ingressar na Bial

  • O pai levava-o muito à empresa e nas férias “trabalhava” na armazenagem, tipografia, …
  • Dúvidas se gostaria de trabalhar na empresa do pai – com quem discutiu abertamente o não ir logo para a empresa e ter uma experiência externa de 1 ou 2 anos – que o incentivou a ir para outro local
  • Concorreu a alguns anúncios para farmacêuticas em Inglaterra e integrou a Roche como delegado de informação médica: 4 anos porque gostou muito do que fazia
  • Existiu o receio de “e se ele não regressa?“; não no momento da decisão, mas a partir da altura em que o pai começa a perguntar quando é que está a pensar vir para a empresa…
  • Se não a empresa não fosse da família, não sabe se teria voltado

 

O que tirou de trabalhar fora e numa empresa concorrente

  • Formação: para além dos pais, colégio alemão, natação e Economia na FEP
  • Ida para Londres: 1º trabalho e 1ª vez que viveu sozinho
  • Os primeiros 6 meses de trabalho foram os mais difíceis de todos
  • Ser delegado de informação e ter de ir visitar médicos (é uma pessoa introvertida)
  • Experiência de trabalhar numa grande empresa, num grande país, …
  • Ligação a gente de múltiplas culturas

 

O que o fez regressar

  • A Bial ser um legado lindíssimo que está sempre em construção
  • Dar continuidade e construir
  • Ser uma pessoa de família

 

Na empresa

  • Adaptação não foi difícil, mas ansiedade se iria ser recebido como o “filhinho do patrão
  • Ambiente muito tranquilo e as pessoas receberam-no bem
  • Enorme respeito por trazer experiência de outro lado; fez a diferença
  • Integrou a equipa comercial e marketing, a qual lhe reconhecia valor por ele também ter andado na rua de pasta como eles

 

Percurso

  • 2 anos área comercial em Portugal (na altura representava 90% das vendas)
  • 2 anos área internacional onde estavam desde os anos 90. A 1ª grande incursão foi comprar empresa em Espanha em 98: experiência difícil de como gerir uma filial com mais de 100 pessoas
  • 3 anos como administrador área internacional: relevo para Espanha onde perderam dinheiro muitos anos (erros típicos de quando se vai para fora…)
  • Desde 2011 que é CEO da empresa

 

CEO

  • Não existiu uma preparação específica
  • Pai “estava à distância, mas estava perto“: nunca esteve longe dele (mesmo quando estava em Londres, passavam muito tempo ao telefone) e, na empresa, nunca esteve muito perto
  • MBA: desejava fora, mas pai não queria que ele se afastasse da empresa, pelo que fez na PBS
  • Pai tinha definido, desde muito cedo, quando queria sair de executivo da empresa [cumpriu e planeou muito bem essa passagem]
  • A prática da natação (até aos 21 anos): aprendeu muito sobre esforço para alcançar objetivos, disciplina para organizar, sofrimento, trabalho de equipa (nas estafetas faziam tempos melhor que individualmente)

 

A BIAL

  • Quase centenária (1924)
  • Desde que está como CEO, o negócio de Portugal passou de um peso na faturação de 80% para cerca de 25%
  • Enorme transformação na empresa com a equipa de investigação e desenvolvimento iniciada em 91 (3 pessoas para as 150 de hoje): enorme impacto por conseguirem desenvolver dezenas de milhares de moléculas e duas terem originados dois medicamentos (epilepsia e Parkinson)
  • Investigação permitiu ir para países desenvolvidos: filiais em vários países da Europa ocidental e parceiros nos EUA e Ásia
  • Empresa muito maior, mais pesada, organização mais descentralizada, flexibilidade, para adaptação às realidades dos distintos mercados…
  • Equilíbrio entre a tradição e o futuro

 

Grandes desafios

  • Chegava à liderança e surgia a Troika e consequente redução de 30% nos preços dos medicamentos, imposta pelo ministério da saúde [1º impacto do pai na entrada na empresa coincidiu com o pós-25 Abril e o período de greves…]
  • Não se aprende num MBA como atuar em caso de, de um dia para outro, lhe reduzirem a margem em 25%. Parar tudo e manter só o essencial
  • 2012/3 grandes prejuízos para a empresa que levaram a decisões muito difíceis, com gestão muito apertada
  • Covid: muito difícil em termos de gestão. Ninguém estava preparado para isso

 

Momentos da liderança de que mais se orgulha

  • Aprovação do 2º medicamento para a Parkinson
  • Compra de uma biotech nos EUA
  • Covidnunca tiveram falhas dos medicamentos BIAL no mercado: trabalhar em segurança; sempre 120 pessoas na empresa – produção, qualidade – não ter nenhum caso de contágio interno nos 9 meses iniciais. Pessoas organizaram-se para poderem substituirem-se demonstrando um enorme espírito de equipa.

 

Visão para os próximos 100 anos

  • Inovação que faça diferença para os doentes.

 

Sucessão

  • Filhos e sobrinhos muito novos
  • Como não deseja eternizar-se no cargo, certamente vai passar por profissionais externos à família
  • Se a nova geração tiver competências e desejar, poderão considerar a sua participação futura

 

Podcast CEO é o Limite: Este canal de diálogo com CEOs é um fantástico meio de reflexão a ser acompanhado pelos gestores, candidatos a gestores, acionistas de empresas e famílias empresárias, responsáveis por contratarem, acompanharem e supervisionarem os gestores que contrata.

Tags: , , , , , , , , ,