Somos uma empresa que foi fundada pelo nosso avô, agora detida pelos nossos pais (2 irmãos com 66 e 63 anos) e pelos 5 primos (2 e 3, respetivamente, de cada irmão). Quatro estamos casados e já com filhos e somente 2 trabalhamos na empresa, em conjunto com os nossos pais. Como já começa a ser muita gente e desejamos evitar problemas na empresa e família, aconselharam-nos a desenvolver um Protocolo Familiar. Gostaríamos de saber o que é e se se aplicará ao nosso caso.

Registamos na sua pergunta a natural preocupação por zelar pelo futuro do negócio (que é, afinal, a missão principal de quem o dirige), mas também o cuidado em garantir o melhor funcionamento e a harmonia entre um número tão diversificado de familiares, com uma parte significativa a trabalhar na mesma empresa. Pois essa é uma das finalidades de um Protocolo Familiar, pelo que o aconselhamento de que beneficiou foi muito oportuno. E atempado também, para que, com a antecedência devida, se possam estabelecer os termos de funcionamento tanto da empresa como da família empresária e do relacionamento entre estas duas entidades.

O grande desafio que se coloca às famílias empresárias consiste em gerar consenso sobre as diferentes temáticas relativas à gestão da empresa, à sucessão tanto na liderança como na propriedade, à família e aos termos da sua ligação à empresa.

Um Protocolo Familiar, para além de um documento que funciona como a “Constituição” da família empresária, é essencialmente um processo que ajuda a encontrar os consensos e a reforçar e a consolidar o orgulho e paixão das pessoas da família pela empresa criada pelos seus ascendentes. Ao terem a possibilidade de participar na sua elaboração, os seus membros apreendem, pensam a empresa e a família, esclarecem as dúvidas, assumem posições e trabalham para obter consensos relativamente às vantagens e ao modo como a Família se poderá manter unida em torno da empresa ou grupo empresarial. A finalidade última passa por assegurar o controlo da empresa, de preferência liderado por pessoas da família, e a sua continuidade nas mãos das gerações futuras.

O processo de elaboração de um Protocolo Familiar obedece, em princípio, a três grandes etapas:

  1. Diagnóstico Global com entrevistas individuais a todos os membros envolvidos,
  2. Obtenção de Consensos com uma intervenção de todos e
  3. A Redação e Assinatura do documento final que irá vincular os subscritores.

Neste contexto, o Protocolo Familiar é um compromisso personalizado e único que transcreve a vontade expressa e consensual dos seus titulares — consubstanciado num documento escrito e assumido pelos membros da família empresária – onde se define o essencial do governo da empresa e da família empresária, do processo da sucessão na liderança e na propriedade da empresa, dos moldes de interação entre a família e a empresa, e as principais linhas de conduta dos membros da família empresária.

Todo o esforço de desenvolvimento deve consubstanciar-se na continuidade da empresa ao longo das várias gerações e a harmonia e coesão familiar em torno da mesma.

 

Nota: Este texto faz parte da coluna “Empresas Familiares – Perguntas e Respostas“, publicada no jornal “Metal” de 30 de novembro de 2018

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