Ao longo dos séculos, as “estórias” sobre irmãos desavindos têm servido de mote a inúmeras guerras, contos populares e até obras literárias. Quem nunca ouviu falar do conflito bíblico entre Abel e Caim, da guerra entre Rómulo e Remo pelo poder em Roma, ou da luta D. Pedro IV e D. Miguel pelo reino em Portugal.

Mas, nem sempre as sucessões, sejam elas pelo poder politico ou pelo económico, acabam mal. Isso mesmo será debatido na segunda conferência do ciclo “Empresas Familiares”, organizada pelo JN e TSF, que se realiza no próximo dia 1, em Viseu. Um dos casos com final feliz é o do Grupo Viola. Viajemos então no tempo…

Decorria o ano de 1943, quando, poucos dias depois de casar com Ana Gomes Soares, o jovem industrial Manuel Oliveira Violas, de 26 anos e com apenas a 4.ª classe, fundou em Espinho a Corfi, empresa ligada à cordoaria e têxtil.

Os anos foram passando e o engenho para os negócios – a regra número 1 era “pagar sempre a pronto” – levou o empresário a estender os seus tentáculos a outras áreas, como o turismo, educação, imobiliária, bebidas e transportes, até ser detentor de um dos principais grupos económicos portugueses.

A nível pessoal o casamento ia dando os seus frutos: Rita Celeste, Otília e Manuel (na foto). Que desde cedo foram ensinados a dar valor ao trabalho e ao dinheiro.

Dos três filhos, apenas o caçula se formou (Economia e Gestão) e nem o jeito para o futebol o fez virar as costas aos negócios do pai. Manuel, o filho, começou a trabalhar no dia seguinte a completar 25 anos e nunca mais saiu do grupo.

Em 1991, o clã Violas perdeu o patriarca Manuel Oliveira Violas, sem que esteve tivesse deixado por escrito como queria que os três filhos gerissem o património milionário (avaliado em mais de 600 milhões de euros) que herdaram. Foi Manuel quem assumiu o controlo dos negócios.

No entanto, o rumo que o mais novo dos irmãos Violas estava a dar ao grupo foi provocando divergências entre os três, até se chegar a uma situação que parecia impossível de ultrapassar.

Para não afetar os negócios, mas, principalmente, para preservar o bem-estar familiar, no resguardo dos seus lares, os três filhos de Manuel Oliveira Violas chegaram finalmente a um entendimento.

E foi assim que, no início de 2006, sem escândalos públicos, anunciaram a divisão do grupo. Manuel e Celeste ficaram com o controlo das áreas da cordoaria, turismo e bebidas e Otília constituiu a ‘holding’ HVF, para onde transitaram o segmento do imobiliário e uma posição de 2,9% no BPI.

Para preservar o legado familiar e evitar uma situação idêntica à que se depararam após a morte do pai, os irmãos decidiram criar regras para que a terceira geração não possa voltar a dividir o grupo.

Nos ramos de Manuel e Celeste não se podem criar empresas fora do grupo, e no lado de Otília o consenso é obrigatório.

 

Publicado em http://empresasfamiliares.jn.pt  2014/09/26 integrado no âmbito da conferência “A relação com os Acionistas e Sucessão na Propriedade da Empresa Familiar”

 

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