A resiliência da bitcoin tem ficado mais uma vez patente nas últimas semanas. Depois de ter negociado abaixo dos $800, a 25 de março, a moeda tem vindo gradualmente a recuperar terreno e, neste início de maio, ultrapassou pela primeira vez na história os $1400.

Preço da bitcoin face ao dólar americano (Bitstamp)

Para justificar esta valorização têm sido apontados essencialmente três fatores:

1) O governo japonês reconheceu a bitcoin como meio de pagamento legal, e a venda da moeda no país passará a estar isenta de imposto sobre o consumo, a 1 de julho de 2017. Com a implementação destas medidas, a procura pela bitcoin no Japão aumentou imediatamente, esperando-se também uma aceitação mais significativa da moeda em estabelecimentos comerciais. O volume de bitcoins negociadas no Japão tem acentuado a sua dominância a nível mundial, mas como já referimos num artigo anterior, estes números apresentam algumas distorções.

De qualquer forma, esta tendência para uma maior clarificação regulatória em torno da bitcoin, em várias regiões (fala-se também em Índia e Rússia), é positiva para a moeda digital. Não só pelas razões mais lógicas, mas também porque contribui para atenuar a volatilidade dos seus preços, algo que ainda afasta investidores mais cautelosos.

2) Esta semana, o regulador financeiro norte-americano (SEC) anunciou que aceitou a petição colocada pela BATS Global Markets, e irá reavaliar a criação de um ETF associado à bitcoin. Em março, a proposta foi rejeitada, mas a expectativa de que a decisão possa agora ser revertida tem sido apontada como fator de suporte à valorização da moeda.

Esta é uma questão mais especulativa. Desde logo, porque as circunstâncias em que a SEC se baseou para rejeitar o ETF em março não se alteraram desde aí. Na verdade, a incerteza em torno da moeda acentuou-se com o problema de escalabilidade. O cenário de rejeição continua assim a ser o mais provável, ainda que tal não deva mais uma vez provocar uma queda significativa (e sustentada) nos preços da bitcoin — tal não aconteceu em março e não há razões para acontecer agora.

3) Como já aqui abordámos, o problema da escalabilidade tem acompanhado a moeda há já vários anos. Com a recente maré de máximos históricos e grandes volumes transacionais, a rede está a ter problemas em entregar a promessa de uma forma fácil e rápida de enviar dinheiro pela internet. A comunidade propôs duas alternativas: SegWit (redução do tamanho dos blocos, solução a curto prazo) e a Bitcoin Unlimited (dar aos mineiros a escolha do tamanho dos blocos, que pode trazer uma centralização da rede).

A primeira opção, defendida pela comunidade de developers, foi pela primeira vez introduzida no programa oficial da moeda em outubro do ano passado. Recentemente, uma atualização permitiu aos mineiros a possibilidade de escolherem não processar transações que usem o SegWit, mesmo que este se torne definitivo. Esta opção pode levar a que os adeptos da BU boicotem a tecnologia rival, o que é preocupante, visto que esta tem como principais defensores as grandes “piscinas” de mineiros.

Contudo, essa questão passou um pouco ao lado dos mercados. Pelo contrário, a confiança tem aumentado pelo facto de a probabilidade de uma divisão da bitcoin em duas moedas diferentes estar a diminuir, à medida que aumenta o apoio dos mineiros ao SegWit (solução que evitaria esse cenário).

Adoção da BU vs SegWit nos últimos 1000 blocos (nodecounter)

Apesar do otimismo que a evolução dos preços nas últimas semanas reflete, o problema de escalabilidade ainda preocupa muitos investidores. Enquanto não for encontrada uma solução definitiva, a confiança dos investidores não será total e essa questão deverá travar uma valorização mais significativa da moeda.

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