Na última publicação abordamos de forma resumida a bitcoin, a nova moeda digital que tem vindo a ganhar fama nos últimos anos. Neste artigo vamos abordar os processos atuais para a sua compra, assim como a perda de influência da China na formação dos preços da moeda, numa semana em que novos máximo históricos foram atingidos.


Onde comprar?

Existem várias alternativas para adquirir bitcoins. Presencialmente, numa agência de câmbios, ou através de um mercado P2P0. Praticamente todas as moedas de alta liquidez têm um par de troca direto com a bitcoin, sendo que a mais conhecida é, sem surpresas, o dólar americano.

Para iniciar é necessário a criação de uma bitcoin wallet (carteira), cujo funcionamento é similar a uma conta de depósitos à ordem (num artigo futuro abordaremos outros dos principais métodos).

Agências de Câmbio (Exchange Platforms):

Estas são, sem dúvida, onde o maior volume transacional ocorre, assim como aquelas que providenciam o maior nível de segurança no que toca à compra e venda. Coinbase, Bitfinex, Bitstamp, BTC-e, OKCoin são algumas das maiores plataformas atuais, hospedadas na China e nos Estados Unidos.

Para compradores Portugueses e Europeus, aconselhamos a Bitstamp, a primeira Bitcoin Exchange a estar licenciada na Europa. Com um volume transacional de 10.000 bitcoins diárias (12 milhões de dólares atualmente), possui uma excelente liquidez e fees máximas de 0,25%.

Para criar uma conta em qualquer uma destas plataformas é necessário apresentar uma fotocópia do cartão de cidadão, assim como a cópia de uma fatura da luz, gás, etc., de modo a poder confirmar a identidade. Após esta verificação pode-se carregar a conta através de transferência bancária ou com um cartão de crédito. Para retirar o dinheiro, este pode ser obtido na forma de transferência bancária, bitcoin ou até em lingotes de ouro!

Mercados P2P (Pessoa para Pessoa):

Outra via cada vez mais usada a nível mundial são estas plataformas, nas quais qualquer indivíduo pode comprar bitcoin diretamente a outra pessoa usando desde transferências bancárias a gift cards.

Mercados como o Localbitcoins (um dos mais usados), disponibilizam serviços de “escrow” (contratos de depósito), de modo a facilitar a troca entre pessoas que pretendam comprar/vender bitcoins em troca de saldo no PayPal, por exemplo. Este tipo de serviço é para quem de facto quer apenas comprar ou vender bitcoin por métodos alternativos, e não uma plataforma de transação com possibilidades de recurso a “limit orders” ou “stop orders”, .

ATMs (Multibanco):

Possivelmente um procedimento mais familiar, dado que estão a ser introduzidas máquinas “multibanco” que possibilitam a compra e venda de bitcoins com dinheiro. Estas, em Portugal, são raras, não sendo possível encontrar uma através de uma pesquisa normal. Mas já há uma empresa portuguesa (www.bitcoinja.com) cujo negócio é a venda destes equipamentos, pelo que no futuro esperamos encontrá-las no nosso país.

Intervenção da China não impede máximos históricos

Cotação da bitcoin (Bitstamp)

No texto da semana passada, foi referido que a China tem tido um papel determinante na cotação da bitcoin nos últimos anos. Apesar de essa ser uma realidade incontestável, começam a surgir sinais de que a influência poderá estar a diminuir.

Até há bem pouco tempo, o volume negociado em bitcoins que se atribuía às bolsas chinesas representava mais de 90% do total transacionado a nível mundial. Dito desta forma, os restantes mercados tornam-se praticamente irrelevantes. Importa, contudo, desmistificar desde já esse número.

Devido à concorrência entre as bolsas chinesas, estas não cobravam, até há poucas semanas, comissões de transação aos seus utilizadores— noutras regiões, são geralmente cobradas taxas em torno de 0.20% — 0.25%. Além disso, as comissões por levantamento na China diminuem quanto maior for o volume transacionado pelo investidor. Ou seja, os utilizadores tinham todos os incentivos a transacionar mais, sendo até possível criar duas contas separadas e efetuar compras e vendas em cada uma delas. Há também suspeitas de que as próprias bolsas tenham procedido dessa forma, procurando atrair novos clientes com a perspetiva de maior volume e liquidez. A conclusão é óbvia: parte do volume negociado nestas bolsas era “fictício”.

No final de janeiro a situação mudou. O Banco Central da China terá forçado as principais bolsas a cobrar comissões de 0.2% por transação, assim como a terminar com a negociação em margem (investimento alavancado). Segundo os dados que vão sendo recolhidos, o volume transacionado nas bolsas chinesas baixou de mais de 90% para cerca de 25% do volume mundial.

Com a queda da negociação em yuan (moeda da China), um novo “líder” surgiu: o yen japonês. No entanto, a explicação para esta ascenção é simples: algumas das principais bolsas japonesas tentaram aproveitar os desenvolvimentos na China para ganhar quota de mercado, estando a atuar exatamente da mesma forma que faziam as suas congéneres chinesas: “comissões zero”. Por outras palavras, continuam a não ser conhecidos os volumes negociados em cada moeda sem distorções.

Peso de cada moeda na negociação de bitcoins a nível mundial

Entretanto, na China, os investidores já terão arranjado forma de contornar as taxas cobradas nas bolsas. Sites como o LocalBitcoins, onde os utilizadores podem comprar e vender diretamente a outros utilizadores, têm reportado uma subida explosiva no seu volume transacionado.

 

Volume semanal negociado em yuan no site LocalBitcoins (Fonte: Coin Dance)

Em todo o caso, as autoridades chinesas voltaram a intervir a 9 de fevereiro. Nesse dia, as duas maiores bolsas chinesas (Huobi e OKCoin) anunciaram que iriam suspender levantamentos em bitcoin e litecoin (outra moeda digital) durante cerca de um mês. O objetivo seria atualizar os seus sistemas, por forma a cumprirem a regulamentação imposta pelo Banco Central contra a lavagem de dinheiro. Em 24 horas, os preços da bitcoin caíram 9% nas principais bolsas mundiais.

Estas imposições do regulador chinês têm como objetivo desencorajar o investimento em bitcoins, algo que está relacionado com o problema com que a China atualmente se depara: a saída de capitais do país, provocada pela expectativa de uma desvalorização da sua moeda (yuan). Para fazer face a esta situação, Pequim tem imposto diversas medidas de controlo de capitais, que vão muito para além do espetro da bitcoin. Contudo, o escrutínio sobre a moeda digital intensificou-se, uma vez que a classe média chinesa tem recorrido a ela como ativo alternativo para se proteger contra a desvalorização do yuan.

Certo é que apenas duas semanas depois deste episódio, a bitcoin está a cotar em máximos históricos. Esta reação positiva do mercado sugere que as autoridades chinesas estão a perder influência sobre os preços. Em 2010, quando declararam que “a bitcoin não estava legalmente protegida”, a moeda digital perdeu mais de metade do seu valor em duas semanas. Já em janeiro de 2017, quando anunciaram investigações sobre as três principais bolsas chinesas, os preços caíram cerca de 15% num só dia. Desta vez, a desvalorização foi de apenas 9% e, no dia imediatamente a seguir, a bitcoin iniciou uma recuperação que culminou para já na quebra dos $1200. Não significa isto que a China tenha deixado de ser um mercado muito relevante para a bitcoin (tal como para qualquer outro ativo, face à crescente influência global da China). No entanto, mostra que o crescimento da moeda digital nos últimos anos torna-a cada vez menos sensível à intervenção de Pequim.

Importa notar que os preços da bitcoin vão sendo também suportados nesta altura pelas expectativas positivas, em torno da possível aprovação do primeiro fundo indexado (ETF) de bitcoin, por parte da SEC (regulador financeiro norte-americano). Espera-se que uma decisão seja tomada até 11 de março. Este tema será abordado com maior detalhe no próximo texto.

 

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