Ao deambular por uma rua da Nazaré, deparei-me com um estabelecimento comercial encerrado onde estava afixado um enorme cartaz.

Considero um fantástico exemplo de informação do término de um negócio familiar e da forma como sempre considerou os seus clientes  que possui elementos para excelentes reflexões e, como tal, merece esta partilha (o destaque de palavras e outras imagens são um acrescento pessoal).

 

 

 

 

 

 

 

 

Prezado(s) Cliente(s) amigo(s),

A 6 de abril de 1959 iniciei neste espaço uma bonita história da minha vida profissional.

Com vinte anos de idade fundeei aqui poita (âncora), por entender que seria o local ideal para iniciar a minha faina de comerciante por conta própria, longe ainda de pensar que aqui permaneceria por mais de 60 anos e da minha pequena loja se tornar um dia local icónico da terra.

O número 16 da Rua Sub-Vila foi a minha segunda casa, por vezes a primeira, tantas foram as horas que aqui passei.

Aqui comecei por vender produtos de farmácia, aos quais juntei sabões, detergentes, livros, artigos escolares, revistas, jornais, tintas, postais, cromos, jogos de computador, artigos religiosos e tantas outras coisas que me foram pedindo e sugerindo.

Aqui também me recriei; produzi, expus e vendi produtos artesanais de minha autoria, quase sempre com o tema da minha Nazaré.

Foi a forma que encontrei para “alimentar” uma das minhas paixões de menino (arte: pintura, fotografia…).

Este meu lado criativo foi por vós sempre bem acolhido e muitos foram os incentivos que me deram para continuar e para inovar.

Este espaço foi o meu batel em terra, e vós a minha companhia. Sem vós não teria sido possível esta epopeia profissional; não teria sido possível ter feito desta casa o sustento da minha família; não teria conseguido por tantos anos aqui permanecer.

Infelizmente, nem tudo é eterno e, enquanto pude e a saúde me permitiu, como sempre o afirmei, abri este meu (nosso) estaminé.

Chegou o momento de içar ferros e dar por terminada esta minha bonita safra, ainda que o desejasse fazer por mais tempo, o meu bem-estar físico não o permite fazer da forma profissional, educada e dedicada que sempre fiz questão de primar.

Comigo levo a riqueza de vos ter conhecido, do tempo que convosco privei e convivi e, acima de tudo, do carinho que por mim nutrem e sempre o manifestaram.

Mais do que clientes, vocês são amigos, companheiros que adorei atender e servir.

A todos vós estou grato,

Nazaré, agosto de 2020

Carlos Hipólito | Carlos da Drogaria | Carlos da Manata

 

Reflexões sobre empresas familiares e famílias empresárias

  • Os negócios liderados por pessoas icónicas estão condenados a desaparecer com a mesma?
  • Um negócio nasce, desenvolve-se e tem de ser eterno?
  • O que comunicaríamos se fosse o nosso caso pessoal? 

 

Tags: , , , , , , ,