O ano de 2017 tem-se assumido como um dos anos mais intensos na história da bitcoin, contando já com vários eventos potencialmente relevantes para o seu futuro: inicialmente o foco esteve nas questões de regulação na China, um mercado sempre muito relevante para a moeda; seguiu-se a proposta de criação do primeiro ETF associado à bitcoin (um fundo indexado que replica a evolução de um determinado ativo, permitindo aos investidores exporem-se à sua variação sem o deterem diretamente) – a proposta foi rejeitada mas está nesta altura a ser reavaliada; mais recentemente, as atenções estiveram centradas no problema da escalabilidade (falta de capacidade da rede para suportar o aumento de tráfego), com a ameaça de divisão da bitcoin em duas moedas diferentes – nesta altura ainda não foi encontrada uma solução definitiva para o problema.

Preços da bitcoin (Bitstamp)

Em termos de mercado, 2017 tem sido um ano igualmente agitado. À atenção dos principais meios de comunicação social chegou inicialmente o facto de a bitcoin ter ultrapassado a valorização do ouro e, mais recentemente, a quebra pela primeira vez na história da marca dos $2000. Neste final de maio, a moeda negoceia em torno dos $2250, acumulando assim uma valorização de aproximadamente 130% este ano – supera largamente o desempenho de todas as moedas convencionais, tal como em 2016.

A maior cobertura por parte dos media tem contribuído para captar o interesse de novas audiências pela bitcoin (e os recentes ataques de ransomware também ajudaram à promoção da moeda), o que faz com que, de certa forma, esta seja uma subida auto-alimentada. A verdade é que existe ainda muita falta de informação ou informação assimétrica, fazendo com que muitas decisões não sejam tomadas de forma racional. Este cenário levanta receios de que estejamos a assistir a uma “bolha” nos preços da bitcoin, sendo essa, de resto, a questão que divide nesta altura a maior parte dos seus seguidores.

Os analistas apontam vários fatores para justificar a recente valorização, sendo porventura o mais referido a recente decisão tomada pelo governo japonês, reconhecendo a bitcoin como meio de pagamento legal (o que aumentou muito a sua procura). É certo que procurar explicações para um movimento desta dimensão é uma tarefa árdua, já que os preços se movem devido à atuação de milhares ou milhões de intervenientes, que tomam milhões de decisões individuais por razões distintas (muitas delas desconhecidas). Não obstante, é de certa forma consensual que uma maior regulação em torno da bitcoin será um fator determinante para a sua utilização de forma massiva. Em todo o caso, será também difícil negar que a subida dos preços nos últimos meses tem sido conduzida em parte por interesse especulativo, com muitos novos participantes a investirem apenas pelo “medo de ficar de fora”.

A Ascensão das Altcoins

Recentemente (especialmente em 2017), a importância da bitcoin tem vindo a cair. Associamos esta descida tanto ao surgimento de novas e melhores moedas, como ao problema da escalabilidade da bitcoin que já reportámos anteriormente.

Antes de mais, será talvez importante referir o que são estas “altcoins”. O nome originou de “Bitcoin alternative”, ou seja, moedas que usam as mesmas ferramentas criptográficas que a bitcoin, assim como a blockchain. Estas têm como objetivo oferecer algo diferente da bitcoin, como o método de distribuição, o algoritmo ou a velocidade de transação.

Capitalização do Mercado – Fonte: Coinmarketcap

O gráfico acima mostra-nos a capitalização do mercado de todas as cryptomoedas, no último ano. Podemos ver que uma tendência positiva se começa a formar no início de 2017, seguindo-se um aumento exponencial, tal como no volume transacionado. Em janeiro, a capitalização rondava os 18 mil milhões de dólares. O “pico” foi atingido a 25 de maio, altura em que se registava uma valorização de 90.758 mil milhões de dólares (aproximadamente 404% desde o início do ano). No entanto, só 44 mil milhões é que pertenciam à bitcoin., com os restantes repartidos pelas centenas de altcoins que formam já mais de 50% do mercado total.

“Dominance Index” – Fonte: Coinmarketcap

O índice acima, criado pelo Coinmarketcap, mostra a divisão da capitalização do mercado por moeda, estando nele representadas as moedas com maior valor. É possível ver uma queda consistente a partir de meados de março do domínio da Bitcoin, impulsionado pelo crescimento de moedas como o Ethereum e o Ripple.

Também consideramos importante falar sobre o Ethereum. Este traz uma revolução powered by blockchain. Proposta em finais de 2013 por Vitalik Buterin, um programador e cryptoresearcher russo, o Ethereum tem uma visão que vai mais além da bitcoin – enquanto que a bitcoin tem como base a descentralização de transações monetárias, o Ethereum cria uma plataforma onde qualquer pessoa pode criar uma aplicação, correndo-a numa rede descentralizada. Ou seja, como exemplo, usando uma aplicação de mensagens, ao invés de as mensagens irem do nosso dispositivo para os servidores centrais do serviço, elas são propagadas pela rede (cujos computadores tanto podem ser servidores da Google como os nossos computadores pessoais) e daí para o utilizador para quem nós queremos enviar a mensagem. Para financiar isto, cada utilizador da rede recebe, em troca do poder computacional, o token da network, que em vez de bitcoin se chama ether (normalmente é referido como Ethereum).

Que usos se pode dar a esta ferramenta? Grandes empresas já estão a investir nesta plataforma. A 22 de maio iniciou a maior conferência de Cryptomoedas, onde empresas como a Toyota, Citi, Fidelity Investments e IBM apresentaram os seus projetos derivados da tecnologia da blockchain. Foram apresentadas soluções para várias áreas de mercado, desde Supply Chain a seguros baseados na utilização (condutores mais cuidadosos teriam um prémio mais pequeno). A Delloite está a desenvolver um sistema de smart ID  hospedado na blockchain do Ethereum, uma subsidiária da RWE (equivalente alemã à EDP) lançou centenas de estações de carregamento de carros elétricos ligadas à rede, e a JP Morgan está a criar uma blockchain privada para os reguladores poderem analisar as transações dos clientes, sem pôr em causa a sua privacidade.

JP Morgan, Chase, Microsoft e Intel – gigantes da banca e da tecnologia, estão na origem do “Enterprise Ethereum Alliance“, um grupo cujo objetivo é conectar os gigantes da Fortune 500 e startups a programadores especialistas em Ethereum, de modo a usar tecnologias como os smart contracts para criar novas ferramentas.

Todo este interesse na tecnologia revolucionária trouxe, claro, uma subida no preço do Ethereum, que começou 2017 com um preço de 8$ e chegou a valer 227$ a 24 de maio (uma valorização superior a 2700%).

Concluindo, o white paper que Satoshi Nakamoto (criador da bitcoin) escreveu em 2008 talvez não tenha tido como objetivo a criação desta indústria. O que é certo é que trouxe muito mais do que uma moeda descentralizada. Trouxe uma mudança de paradigma. Quem sabe, a seguir à internet, esta será a nova revolução tecnológica.

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