BITCOIN?! Mas que raio é isso?

Vivemos num contexto em que:

  • as viaturas estacionam sozinhas e até se diz que não vão necessitar de condutor,
  • existem quiosques de café cujo único empregado é um robô,
  • os drones fazem entregas ao domicílio,
  • o Reino unido estima que robôs substituirão 250.000 funcionários nos próximos 15 anos,
  • no Japão uma androide super-realista é apresentadora de programa de televisão online e ao vivo,

apetece mesmo dizer que … este mundo está louco!

Neste momento existem cerca de $16.000.000.000 que não são dólares, mas bitcoin (BTC), que se podem transformar em EUR, GBP, JPY, USD, ….

Questionando alguns professores, empregados bancários, políticos, empresários (familiares e não só), … e muitas outras pessoas, os comentários mais comuns foram:

  • Mas o que é isto?
  • Para que é que serve?
  • Tem ou vai ter algo a ver comigo?
  • Não será somente mais uma “tecnologia” de moda que em breve desaparecerá?

Como o desconhecimento é enorme, os meios de comunicação não tem dado grande relevância ao tema e eu acredito que a sua influência no mundo dos negócios é crescente, lancei o desafio ao Hugo e ao Nuno de “descomplicarem a bitcoin“.

Aceite o repto, segue o 1º artigo, de muitos outros que se seguirão regularmente, onde esta dupla abordará o tema com duas úteis perspetivas:

  1. O abc da bitcoin e sua aplicação;
  2. A análise do mercado “bitcoiniano”, aplicando-se metodologias tradicionalmente usadas nos mercados financeiros ou de mercadorias.

Bem-vindo ao mundo das moedas digitais!

antónio nogueira da costa


A bitcoin é o nome da 1ª moeda digital baseada numa rede de pagamento descentralizada sustentada através de “Peer to Peer” (utilizador para utilizador), ou seja, é suportada pelos seus usuários, sem a existência de uma entidade central, o que permite a transferência de dinheiro entre qualquer pessoa a nível mundial sem a necessidade de um serviço centralizado, como um banco ou o “PayPal”.

Há vários aspetos que distinguem a bitcoin dos outros tipos de moeda, como:

  • Autonomia – ao contrário de moedas como o Euro ou o Dólar, que são dependentes do BCE e Reserva Federal respetivamente, não há nenhuma entidade capaz de impor regras na utilização da mesma, assim como qualquer tipo de políticas monetárias.
  • Facilidade de transferência – ao contrário de outras entidades é possível transferir qualquer quantia, a qualquer hora do dia, para qualquer ponto do planeta e sem pagar taxas exorbitantes.
  • Fornecimento previsível e limitado – ao contrário de moedas cujas entidades centrais podem emitir mais moeda, a bitcoin tem um fornecimento máximo de 21 milhões de unidades, número que hoje está situado um pouco acima das 16 milhões.
  • Segurança – é impossível fazer a transferência de carteiras que não as suas, efetuar “chargebacks” ou congelar os fundos.

 

A evolução da bitcoin


Cotação da bitcoin (Bitstamp)

Em maio de 2010, na Florida, Laszlo Hanyecz comprou duas pizzas avaliadas em cerca de 25 dólares, por 10.000 bitcoins (BTC). Esta transação entrou para a história como sendo a primeira vez que a bitcoin foi utilizada para comprar algo, atribuindo-lhe o primeiro valor concreto: cerca de $0,0025 por BTC.

Desde aí, o valor da bitcoin já atravessou períodos de elevada volatilidade. O primeiro ocorreu em julho de 2010, quando avançou de $0,008 para $0,08, em apenas cinco dias. Em fevereiro de 2011, foi atingida pela primeira vez a paridade com o dólar (1$ = 1 BTC) e, em julho do mesmo ano, ocorreu o pico da primeira grande subida da bitcoin, acima dos $30. O movimento foi suportado pela crescente popularidade do Silk Road, um mercado negro online. Seguiu-se uma queda superior a 90%, até próximo de $2 em novembro de 2011.

Daí até ao início de 2013, houve uma fase de maior acalmia nos preços, com uma valorização gradual até $13. Contudo, esse ano revelou-se um dos mais agitados até hoje para a bitcoin, sendo a partir daqui que a sua negociação ganhou maior notoriedade. A moeda subiu até $266, registados em abril de 2013, num período em que a crise bancária no Chipre resultou em duas semanas com os bancos encerrados e os levantamentos limitados. A desconfiança no sistema bancário tornou mais atrativo deter uma moeda que não estivesse sob o controlo de nenhum Governo, não só no Chipre mas também a nível internacional. Esta é uma questão que, ainda hoje, se revela crucial para a valorização da bitcoin.

A subida não foi duradoura e, no espaço de poucos dias, os preços caíram de novo até $70. Contudo, no último trimestre de 2013 a bitcoin subiu como nunca antes e em novembro ultrapassou pela primeira vez a marca de $1.000. Esta subida deveu-se ao aumento da popularidade da bitcoin na China, com a entrada no mercado de várias bolsas e novos utilizadores – até hoje, a China dita grande parte da ação ocorrida nos preços da moeda. A volatilidade foi significativa nos meses seguintes, com a bitcoin a oscilar entre $500 e $1.000. Os preços iam sendo influenciados pelos rumores de má gestão e insegurança na bolsa japonesa Mt. Gox, que na altura era a mais utilizada a nível mundial. A insolvência e encerramento confirmaram-se em fevereiro de 2014, despoletando uma queda nos preços até à zona de $400, que se prolongou de forma gradual até ao início de 2015 – aí negociaram abaixo de $200. Até novembro do mesmo ano, os preços estabilizaram entre $200 e $300, mas iniciaram aí uma tendência de alta que prevaleceu até 2017.

Em 2016, o desempenho da bitcoin (+124%) superou o de todas as moedas convencionais, sendo vários os fatores que se podem destacar para justificar a sua valorização: a depreciação da moeda da China (yuan) e as medidas de controlo de capitais no país, o “Brexit”, a desmonetização na Índia (retirada de circulação das notas mais valiosas para reduzir o dinheiro sujo), a hiperinflação na Venezuela, assim como a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas. Em comum, estes eventos têm o facto de serem potenciadores de instabilidade e incerteza, o que atrai o interesse quer das pessoas, quer de fundos de investimento e outros investidores institucionais, para ativos alternativos ou de “refúgio”.

Valorização em 2016: bitcoin e ouro

O desempenho da bitcoin em 2016 foi também muito superior ao do ouro (+8%), um ativo tido como “seguro” e com o qual a moeda é frequentemente comparada. Contudo, nos últimos dois anos a correlação entre os dois instrumentos foi negativa, o que não implica que a bitcoin não esteja a ser utilizada como ativo de “refúgio”. Na verdade, poderá sugerir que alguns participantes do mercado têm estado a substituir o ouro pela bitcoin como instrumento a deter em períodos de maior instabilidade.

“Refúgio” ou não, a bitcoin tem contrariado todas as sentenças de “morte” que lhe foram dirigidas nos últimos anos, nomeadamente após cada queda sofrida. A sua resiliência tem sido notória e, no primeiro dia de 2017, voltou a superar os $1.000, três anos depois da última vez.

Hoje, as duas pizzas que Laszlo Hanvecz adquiriu em 2010 valeriam 10 milhões de dólares.

 

No próximo artigo: Como posso obter bitcoin

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