Deve a família trabalhar na empresa familiar?

A resposta não é fácil e poder-se-á dizer que é, muitas vezes, um problema de emoção. “Temos de tomar decisões sobre pessoas concretas às quais nos sentimos emocionalmente ligados, sendo que os sentimentos turvam o processo racional que deve sustentar a gestão do pessoal, ainda que se trate dos nossos filhos ou sobrinhos”, refere António Nogueira da Costa, sócio fundador da efconsulting em Portugal.

Para enfrentar a emoção, sugere o especialista em empresas familiares, importa saber quais são as perguntas certas quando estamos perante esta situação. O passo seguinte é conseguir implementar as respostas adequadas.

E neste rol emotivo, é imperioso desde logo perceber como é que a família vê a empresa familiar. “Para a família em geral, a empresa é uma fonte patrimonial de receitas, via lucros, que indubitavelmente é necessário conservar e fazer crescer. Mas é também vista por determinados membros como um lugar para trabalhar, seja de uma forma responsável e altamente envolvida com o projeto profissional e empresarial, seja na perspetiva de considerar a empresa familiar como um sítio onde se consegue emprego fácil, não sendo necessário passar pelos filtros da empresa externa”, explica o consultor.

Ultrapassando este que é um dos principais busílis da temática, e para que os pontos fiquem bem assentes nos “is” há que definir, com clareza, quem pode trabalhar no negócio da família.

No que a este ponto diz respeito, António Nogueira da Costa assegura que “partimos da necessidade de contratar por parte da empresa” porque “sem esta necessidade prévia não há lugar a nenhuma incorporação, por muito próximo que o membro da família seja”. Quer isto dizer, acrescenta, que “a nossa obrigação é contratar a pessoa profissionalmente mais habilitada que consigamos encontrar e – salvo se as nossas normas definidas no Protocolo Familiar não o impedirem – se um membro da família for o mais capaz não há motivo para não o contratar mas, claro, de uma forma planeada e de acordo com as mesmas normas estabelecidas antecipadamente para todos”.

Há no entanto uma franja do clã que raramente é esquecida nestes contextos e que salvo raras exceções escapa à polémica no seio destes negócios. Falamos dos familiares por afinidade. Neste capítulo, o especialista não esconde que se trata de “uma problemática específica e suscetível de gerar conflitos”. Partindo deste princípio, devemos considerar que “se a relação entre os diferentes familiares por afinidade da nossa família está sujeita a diferentes sensibilidades económicas e de poder, conflitos ou invejas, devemos evitar a presença de todos eles na empresa, por muito válido que estes sejam em termos profissionais”.

De qualquer das formas, conclui, “o habitual é que a regulação para os consanguíneos e para os seus cônjuges seja diferente, de forma a evitar o que na prática dá lugar em muitas empresas a uma importante fonte de conflitos”.

AM Classic tinha a solução dentro de casa

amclassicHá mais de 50 anos que dominam a técnica do fabrico de móveis clássicos com forte vertente artesanal e hoje chegam a meia centena de países. A AM Classic vai atingir, este ano, os 10 milhões de euros de faturação e prepara-se para investir três milhões no aumento de instalações. É a partir de Paços de Ferreira que o clã Silva chegou já à casa do tenista Rafael Nadal ou ao exército norte-americano.

Começou por ser uma pequena fábrica de móveis clássicos instalada na Capital do Móvel com duas lojas abertas ao público. A forte queda do mercado mobiliário no país fez descer a pique as vendas e eis que a experiência de um filho engenheiro têxtil que tinha já percorrido o mundo, teve impacto na arte do fabrico de mobiliário. “Nos anos 80 até 2000, o nosso principal negócio era a loja. Fabricávamos pouco, tínhamos 20 trabalhadores, mas vendíamos muito nas duas lojas”, explica Mário Silva, CEO da AM Classic.

Com a chegada, em 1995, deste engenheiro têxtil, tudo mudou. “Quando vim trabalhar para os móveis com os meus irmãos, tinha 27 anos, a internacionalização era zero e a fábrica pequena”, recorda. “Trabalhei um ano, como estagiário, numa fábrica têxtil que tinha cerca de 500 pessoas e aprendi o que era uma empresa grande ao nível industrial. O setor têxtil, na altura, estava muito mais desenvolvido do que a indústria do mobiliário, que andaria 20 anos atrasada. Depois trabalhei quatro anos a vender equipamento para a indústria têxtil, percorri a Europa toda e essa empresa deu-me a oportunidade de conhecer o mundo”, refere Mário Silva.

Chegado ao universo do mobiliário, trazia na mochila invisível de conhecimento “uma visão industrial completamente distinta daquela que existia e vinha também com uma perspetiva comercial totalmente diferente”, acrescenta o engenheiro têxtil. Nessa altura traçaram um plano de internacionalização e começaram a vender móveis para Espanha.

Atualmente o negócio está alocado a três pilares: venda para lojas, para private label (fornecer para outras marcas) e hotelaria. A empresa exporta 90% daquilo que produz, tem 172 trabalhadores e regista índices de crescimento, nos últimos cinco anos, na casa dos 20%.

 

Publicado em http://empresasfamiliares.jn.pt  2014/10/26, integrado no âmbito da conferência “A gestão de familiares a trabalhar na Empresa Familiar”, de que a efconsulting é coorganizadora

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