O crescimento a ritmo lento das economias da União Europeia, após um período de recessão que abrangeu vários países, não demove as empresas familiares europeias de olharem o futuro próximo com otimismo. Um estudo publicado recentemente pela Federação Europeia de Empresas Familiares e a consultora KPMG concluiu que as famílias empresárias estão focadas em investir e agarrar novas oportunidades a curto e médio prazo.

O “European Family Business Barometer” salienta que os negócios familiares do Velho Continente se encontram apostados em perseguir novas oportunidades e fazer crescer a sua atividade. Este sentimento é manifestado por 75% das empresas inquiridas, um forte indicador de confiança nas condições de crescimento do mercado.

Apesar de terem uma natureza única, que lhes coloca desafios diferentes em relação a outras organizações, as empresas familiares revelam um grande poder de resiliência e capacidade de reação às adversidades. Daí que esta sua determinação em terem sucesso e em se adaptarem às mudanças do mercado, “surge pela proatividade, rapidez dos processos de decisão, visão de longo prazo e dos valores e cultura próprios do negócio familiar. São vantagens competitivas únicas, proporcionadas pelo seu posicionamento distinto”, afirma Christophe Bernard, diretor da área de estudo de empresas familiares da KPMG.

Ainda de acordo com este responsável, “a experiência empresarial ganha por empresas que atravessaram mais do que uma geração, permite antecipar mudanças e planear o futuro”. Talvez por isso quase metade das empresas que responderam ao estudo tenham evidenciado a pretensão de avançar para mudanças estratégicas nos próximos 12 meses. Entre as medidas apontadas estão a sucessão e a passagem da propriedade para a próxima geração, o que comprova que esta é uma questão primordial na sua atividade. Outras tendências apontadas são também a venda do negócio ou a nomeação de um líder que não seja membro da família.

Outros motivos que sustentam o otimismo dos empresários familiares têm a ver com o crescimento do negócio. Quase 60% das empresas respondeu que a sua faturação cresceu no ano anterior e 26% manteve o volume de negócios. Ou seja, apenas uma em cada 10 empresas familiares viram as suas vendas baixarem. E 75% das empresas estão a trabalhar fora do país de origem, com mais de metade destas a aumentar a sua atividade internacional no ano anterior.

Face à melhoria da saúde financeira, as empresas familiares já começam a pensar em fazer investimentos a curto e médio prazo, estando focalizadas, de acordo com as respostas mais frequentes, na melhoria da sua atividade principal, internacionalização e diversificação do negócio. Neste âmbito, é interessante verificar a solidez financeira dos negócios familiares, uma vez que 85% destes manifestaram não ter dificuldades em obter financiamento da banca e ter conseguido aumentar ou manter o número de postos de trabalho.

Principais desafios a enfrentar para chegar ao sucesso

Dificuldades Apesar da visão positiva quanto aos tempos vindouros, as empresas familiares estão conscientes das exigentes condições do mercado e dos obstáculos que terão pela frente. Na União Europeia existem mais de 20 milhões de empresas e, a cada ano, nascem 1,2 milhões de novos negócios. Isto sem contar com empresas internacionais que operam em território europeu. Não espanta por isso que o aumento da concorrência seja a principal dificuldade que as empresas familiares identificam na sua atividade.

Nas respostas dadas ao “European Family Business Barometer”, os empresários familiares divulgaram que, no topo das preocupações, estão áreas como o difícil recrutamento de mão-de-obra qualificada (face à grande procura pelos melhores talentos) e a quebra de rentabilidade, provocada pelas condições do mercado e custos laborais. Além disso, 35% das empresas sentem que leis laborais mais flexíveis permitiriam uma maior perspetiva de crescimento.

Por outro lado, as empresas familiares mostram-se atentas à preparação da geração seguinte da família e reconhecem que é importante que esta, numa fase inicial, possa trazer experiência, conhecimentos e novos horizontes do exterior. A sucessão é algo importante para estes negócios, com 45% a referir que integrou membros da nova geração em cargos de gestão, algo “crucial para a sobrevivência e sucesso”.

No entanto, 85% das empresas acreditam que a vinda de gestores de fora para a administração da empresa, traz benefícios e ajuda a profissionalizar o negócio, permitindo aos proprietários concentrarem-se em questões estratégicas. Entre os inquiridos, 76% das empresas já possuem gestores externos à família.

E o que guia a empresa familiar para o sucesso? O forte controlo do negócio, que permite rapidez e flexibilidade nas tomadas de decisão, a orientação de longo prazo, as práticas e valores familiares são argumentos referidos. Quanto a prioridades, estas são: aumentar lucros e faturação, exportar para novos mercados, inovar, diversificar produtos e formar quadros.

Bruno Amorim

 

Publicado em http://empresasfamiliares.jn.pt  2014/10/24 integrado no âmbito da conferência “A gestão de familiares a trabalhar na Empresa Familiar” de que a efconsulting é coorganizadora

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