Os negócios familiares são tradicionalmente controlados por uma família e seus descendentes, o que lhes assegura algumas das caraterísticas próprias deste tipo de sociedade e das quais sobressai a posse do capital no círculo restrito da Família.

Com a evolução da atividade, muitas destas organizações acabam por contratar pessoas para assumirem determinadas funções, cuja especialização nem sempre se consegue colmatar no seio da Família. Sendo cargos de significativa responsabilidade e confiança, acabam por se criar laços com estes colaboradores muito próprios dos familiares (quando não acontecem mesmo a entrada para a família por via de casamento) e, cada vez mais, se lhes atribui um sistema de recompensa que ultrapassa os meros prémios financeiros e chegam à distribuição de capital – muitas vezes esta é mesmo a primeira experiência de abertura do capital social.

Podendo parecer um contrassenso, salientamos que esta é uma excelente e motivadora alternativa de compensação dos quadros superiores, que deve estar associada ao cumprimento de determinados objetivos pessoais ou da empresa. Saliente-se que um tal sistema de remuneração pode ser implementado de forma a que, em determinadas situações, o capital volte à posse da Família, assegurando assim o seu controlo e evitando a entrada de acionistas indesejados.

ambar papelEm 1939 Américo Barbosa cria no Porto, na Rua dos Caldeireiros, uma empresa com as iniciais do seu nome – AMBAR, dedicada aos artigos de papelaria e material escolar. A evolução da atividade e crescimento do negócio leva a empresa a deslocar-se por diversas vezes, até à zona industrial do Porto. 

A entrada na segunda década deste século foi trágica para a empresa: de uma faturação de cerca de €30 milhões em 2000 (com 700 funcionários), passou a €20 milhões em 2010 e caiu para 6 milhões em 2012.

Até então a empresa era detida pela filha e herdeira do fundador, sem qualquer participação acionista por parte dos quadros da empresa.

Em 2013 dois quadros que trabalhavam na empresa há mais de 20 anos, Mário Pinto e Rosa Magalhães, diretores de recursos humanos e da área financeira, respetivamente, reuniram um grupo de 30 trabalhadores e apresentaram um pedido de insolvência especial com vista à recuperação da empresa.

A posição inicial dos principais credores e dos administradores judiciais era de que a Ambar dificilmente teria condições para subsistir. A dedicação não esmoreceu e os dois diretores, que insistiam na viabilidade da empresa, acabaram por ser nomeados pelo Tribunal de Comércio de Vila Nova de Gaia “administradores da devedora, fiscalizados pelos administradores de insolvência“.
Com a anuência do principal banco credor e a entrada do Fundo Revitalizar Norte, estes dois quadros esperam poder comemorar os 75 anos da empresa com 100 funcionários, o dobro dos que existiam no início do ano.

Temas para reflexão:

  • Já pensamos num sistema de compensação baseado em capital da empresa?
  • Que vantagens poderíamos obter?
  • As potenciais desvantagens estão acauteladas para serem facilmente ultrapassadas?

 

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