A visão da Família Empresária sobre a Disrupção deve ser refletida na própria empresa familiar

A Família Empresária estruturada pode e deve ter uma visão sobre o futuro da empresa familiar e, em especial, estar atenta às questões de disrupção do seu mercado de atuação.

Existem duas grandes posições que a Família Empresária deveria ter muito bem clarificadas:

  1. Uma primeira e significativa perspetiva é relativa à postura que a empresa deve ter: ser proativa na formação de uma disrupção ou somente reativa?
  2. A segunda tem a ver com a forma como a disrupção deve ser encarada: uma oportunidade ou como uma ameaça?

O estudo “Empresas familiares da próxima geração: Liderando um negócio familiar num ambiente disruptivo”, da Deloitte, evidenciou as seguintes posições das Famílias Empresárias relativamente à disrupção:

  • Quase metade dos inquiridos considera fazer parte do ciclo natural do negócio;
  • Cerca de um terço considera que é uma oportunidade, contrariamente a uns reduzidos 7% que vêm a disrupção como uma ameaça.

Não sendo fácil detetar-se disrupções, pode-se contudo tentar identificar elementos que de alguma forma sejam potenciais influenciadores ou geradores de mudanças incrementais no negócio familiar. Um desses fatores é visível quando os concorrentes (em sentido lato, aqueles que satisfazem a mesma necessidade dos nossos clientes) começam a conquistar quota de mercado; outro é quando a nossa capacidade de captar novos clientes está cada vez mais reduzida.

Sendo a disrupção uma preocupação crucial dos líderes da empresa, a família, em especial os membros que estão mais afastados do negócio, podem dar fantásticos contributos ao manifestarem a sua leitura do que se está a passar no mercado.

Podendo parecer algo estranho e somente verosímil para pequenos negócios, permitam-me que, sem identificar, lhes ilustre com o exemplo de uma família europeia, que domina um negócio na área alimentar que fatura cerca de dois mil milhões de euros, onde os seus membros recebem periodicamente da empresa cabazes de produtos ou suas evoluções, para analisarem e apresentarem por escrito a sua opinião sobre os mesmos.

Na parte final da década de setenta, André Mentzelopoulos, um grego que possuía uma cadeia de mais de 1.600 supermercados em França (adquirida em 1956 e fundada em 1844), decidiu investir na área dos vinhos, adquirindo a Château Margeaux. A propriedade, cujas origens remontam ao séc. XVI, estava à venda há vários anos pelo que a conseguiu adquirir por um valor na ordem dos $16 milhões – apesar de ser uma das raras propriedades com a designação Premier Cru, atribuída por Napoleão III aos melhores terroirs de Bordéus para produzir vinho.

Com a morte do pai em 1980, a viúva Laura e a filha Corinne decidiram dar continuidade ao negócio com o orgulho e a responsabilidade de não o deixar sucumbir.

À data a reputação da vinha estava muito marcada por umas colheitas médias, um escândalo relacionado com os rótulos e baixos preços de venda.

Para ultrapassar esta situação, Corinne recorreu a um professor e reputado enólogo Emile Peynaud e suportou-se no gestor à data Philippe Barré, substituído em 1983 por Paul Pontallier.

Esta nova equipa efetuou maravilhas e a Chateâu Margaux naquilo que é hoje:

  • 262 hectares, 80 funcionários e uma produção de cerca de 280.000 garrafas de vinho por ano;
  • preço de venda na ordem dos $1.000 (Château Margaux 2015 a €1.950, 1989 a €8.670, http://avis-vin.lefigaro.fr);
    o que valoriza a propriedade num valor próximo de mil milhões de dólares.

Temas para Reflexão:

  • Qual a posição da nossa Família Empresária quanto à disrupção no negócio familiar?
  • A Família Empresária não deve interferir na leitura do negócio com a empresa familiar?
  • A visão da Família Empresária deverá influenciar ou refletir-se na visão da Empresa?

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